domingo, 26 de maio de 2019

A VIDA DO HOMEM

Baseado na fábula de Esopo



Deus criou o homem e disse-lhe:

- Vai, serás o senhor da terra e o animal superior. Grandes trabalhos e surpresas te esperam, mas de tudo triunfarás, se fizeres a tua parte. A tua felicidade muito depende do teu querer. Viverás trinta anos.

O homem ouviu e calou-se.



Deus criou o burro e disse-lhe:

- Vais viver como escravo do homem, conduzir a ele com todos os fardos que te puser às costas. Serás bastante discreto e paciente para suportar, além de pesada carga, as privações que te forem impostas durante as viagens. Viverás cinquenta anos.

O burro respondeu:

- Escravidão, cargas, privações, e viver cinquenta anos. É muito, Senhor, bastam-me trinta.

Deus criou o cão e lhe disse:

- Vais ser o companheiro do homem, a quem guardarás, sempre alerta, à porta, servindo com inteira obediência, ainda que não recebas mais que um osso para matar a fome. Serás açoitado, passarás fome, mas humilde e fiel, tens que lamber a mão de quem te castiga. Viverás trinta anos.

O cão pensou e refugou:

- Vigiar dia e noite, ser açoitado, padecer fome e viver trina anos. Não Senhor, quero apenas dez.

Deus criou o macaco e disse-lhe:

- Vai, teu ofício é alegrar o homem. Saltando de galho em galho, procurarás, imitando-lhes os gestos, arremedando, fazendo caretas, aliviar-lhe a tristeza e entreter-lhe o humor. Viverás cinquenta anos.

O macaco pestanejou e pediu:

- Senhor, é demasiado para tão ingrato destino - bastam-me trinta anos.

Tomando, então, a palavra, disse o homem:

- Vinte anos que o burro não quis, vinte que o cão enjeitou, vinte que o macaco recusa, dê-os a mim, Senhor, que trinta anos é muito pouco para o rei dos animais.

- Toma-os - disse o criador. - Viverás noventa anos, mas com uma condição - cumprirás em tua vida, não só o teu destino, mas também o do burro, o do cão, e o do macaco.

E assim vive o homem:

Até os trinta, forte, corajoso, resistente, enfrenta os perigos e obstáculos. Luta bravamente; vence e domina. É homem.

Dos trinta aos cinquenta, tem família, e trabalha sem repouso, para sustentá-la. Cria os filhos, afadiga-se por educá-los e garantir-lhes o futuro. Sobre ele se acumulam os encargos. É burro.

Dos cinquenta aos setenta, está de sentinela à família. Dedicado e dócil, seu dever é defendê-la, mas já não pode, contudo, fazer valer a sua vontade. Contrariado humilha-se e obedece. É cão.

Dos setenta aos noventa, sem forças, curvo, cansado e enrugado, vegeta num canto; é inútil e ridículo. Sabe que não o levam a sério, mas resigna-se e tem gosto em ser o palhaço das crianças. É macaco.

FONTE: https://fatimalp.blogspot.com/2011/09/vida-do-homem.html

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